INSTITUTO
WALTER LESER
Saúde coletiva & cidadania
Pandemia
18 de maio de 2020
FOTO: Reprodução
PRISÃO: Em Rio Verde, GO, moradora chama polícia
BOM SENSO: delegado explica a confusão em Arapiraca
DESTRUIÇÃO: material de pesquisa apreendido
Erro de comunicação do Ministério da Saúde interrompe pesquisa sobre covid-19
Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) só enviou os ofícios pedindo apoio local para equipes de pesquisadores um dia depois de iniciado o trabalho de campo
LILIAN PRIMI
Um erro da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde impediu a realização da fase nacional do estudo EPICOVID-19, financiamento pelo Ministério da Saúde e coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em várias cidades do país. Em alguns casos, os agentes do IBOPE Inteligência, recrutados e treinados para fazer o teste para covid-19, foram encaminhados para delegacias e mantidos sob custódia por várias horas. Sem conhecimento da pesquisa, as secretarias de saúde das cidades não confirmavam as informações oferecidas pelos agentes às autoridades, que eram acionadas pelos moradores. Em nota, a coordenação do estudo reclama de truculência em algumas delas e avisa que das 133, em 13 talvez não seja possível vão ficar fora definitivamente do estudo por causa da violência empregada.
A UFPel deu início ao estudo por meio de um projeto piloto em oito cidades do Estado do Rio Grande do Sul, que encerrou a sua terceira fase no final de abril (leia mais aqui). O início da fase nacional estava previsto para o dia 5 de maio, mas os agentes só começaram a sair a campo no dia 14 e não foram bem recebidos pelos moradores. Segundo informações dos coordenadores do estudo, foram registrados problemas em 42 cidades do país, com alguns casos de truculência e abordagens violentas, que destruíram amostras já coletadas e equipamentos das equipes. A coordenação informou que foram enviados ofícios às secretarias estaduais e municipais de saúde e também aos conselhos de secretários de saúde das duas instâncias. Segundo o secretário executivo do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems), Mauro Junqueira, ninguém sabia do projeto nas secretarias até quinta-feira à noite, quando começaram a chegar notícias de impedimentos, em virtude de um erro cometido pela SAPS. “Na sexta-feira pela manhã, dia 15, fizemos contato com a SAPS-MS comunicando o ocorrido e só aí fomos informados da referida pesquisa. O MS assumiu o erro de comunicação e soltou uma nota técnica no mesmo dia”, explica (leia íntegra da nota aqui). A nota foi divulgada então aos municípios pelo Conasems e também pelo MS. “Desde então estamos mantendo contato com os Cosems e regiões de saúde para o bom andamento do projeto. Infelizmente foi uma falha de comunicação da SAPS, já sanada”, garante.
O Ibope Inteligência afirma, em nota assinada pela coordenação do estudo, que esse atraso não justifica a postura truculenta das autoridades de algumas prefeituras, e acusa os gestores de se comportarem como “xerifes”, ignorando a relevância do estudo em meio à pandemia que já matou 16.118 brasileiros:
“Nas situações mais graves, os entrevistadores do IBOPE Inteligência foram detidos, com uso de força policial, tendo sido tratados como criminosos. Trata-se de cerca de 2.000 brasileiros e brasileiras, que estão trabalhando para sustentar suas famílias, numa pesquisa que pode salvar milhares de vidas. Esses pesquisadores mereciam proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos por parte da população. Ao invés disso, as forças de segurança em algumas cidades foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas, algumas delas felizmente registradas.” Leia a íntegra da nota aqui
Ocorrências foram registradas em 42 cidades do país
No Estado de São Paulo há notícias de detenções em São José dos Campos e de interrupção pela Vigilância Sanitária em Araraquara, onde a pesquisa foi interrompida até que a situação fosse esclarecida. Segundo a coordenação do estudo, ocorreram detenções também em São Mateus (ES), Imperatriz (MA), Picos (PI), Patos (PB), Natal (RN), Crateús e Serra Talhada (CE), Rio Verde (GO), Cachoeiro do Itapemirim (ES), Caçador (SC) e Barra do Garça (MT); em Santarém (PA), a equipe foi levada para a delegacia e teve os testes para covid-19 apreendidos.
Em Mossoró (RN), os entrevistadores relatam que foram agredidos na rua, acusados de violar a quarentena; em Crateús (CE), as autoridades disseram que não poderiam garantir a segurança da equipe. Também no Ceará, em Igatu, a polícia prendeu 16 entrevistadores e a Vigilância Sanitária recolheu e descartou o material que estava em poder deles. Em algumas cidades, como Governador Valadares (MG), não houve detenção, mas o material da pesquisa foi apreendido.
Em Rondonópolis (MT), os entrevistadores estão presos no hotel,
esperando liberação pelas autoridades municipais de saúde. Em Barra do Garças (MT), os 15 pesquisadores detidos chegaram a assinar um termo circunstanciado de ocorrência (TCO) por exercício ilegal de profissão e por introdução ou propagação de doença contagiosa. Já em Arapiraca (AL), onde um casal de pesquisadores foi denunciado pelos moradores, a polícia local resolveu a questão sem precisar do ofício, por meio de checagem correta da identificação. (assista ao vídeo nesta página). No momento, os pesquisadores esperam a liberação em 40 cidades.
*Com informações de GaúchaZH
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