INSTITUTO
WALTER LESER
Saúde coletiva & cidadania
Seremos
todos uber
O debate sobre o mundo do trabalho nas sociedades de informação, desde a nova organização imposta pelo sistema just in time e kanban até os serviços mediados pelos aplicativos virtuais, prometem revelar aspectos inéditos da questão na roda de conversa Uberização no mundo do trabalho para todos: repercussões na vida das pessoas. Farão parte desta conversa o cineasta Carlos Juliano Barros, Prêmio Vladmir Herzog por Carne e Osso (SP-2010), primeiro de uma série de documentários sobre a realidade do trabalhador. Seu último trabalho, GIG – Uberização do Trabalho, exibido na 8ª Mostra de Cinema Ecofalante 2019, será exibido nesta roda e relata o cotidiano do que o sociólogo Ricardo Antunes, também convidado, chama de o “novo proletariado de serviços”: desempregados que aceitam contratos precários de todo tipo, multiplicados e legalizados nas economias neoliberais, somados aos “autônomos”, que trabalham por meio de aplicativos virtuais.
Ricardo é pesquisador no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos maiores conhecedores da obra marxiana da América Latina, editor da coleção Mundo do Trabalho da Boitempo Editorial. Dedica-se ao acompanhamento e estudo das transformações nas relações do trabalho desde a década de 1990, aqui no Brasil e na Europa, e é autor de uma série de livros a respeito do tema. No ano passado, lançou O privilégio da servidão. O Novo Proletariado de Serviços na Era Digital, uma análise do que o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Rodrigo Carelli e terceiro convidado da roda, concluiu se tratar de neofeudalismo.
Rodrigo é membro do grupo de estudos GE Uber, da Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho (Conafret) do MPT, e co-autor do estudo Empresas de Transporte, plataformas digitais e a relação de emprego: um estudo do trabalho subordinado sob aplicativos, que investigou as normas que regulam as relações entre os
prestadores de serviços e o aplicativo,
Ricardo Antunes participou em 2018.
Falou sobre os danos provocados à vida do trabalhador pela nova organização do trabalho na Europa. Trouxe relatos sobre a reação dos precários europeus, como a criação de um santo, o San Precário,
e da Marcha
MayDay

escondidas nos algoritmos. O documento classifica essa nova organização das formas do trabalho como “economia do bico”.
A socióloga Luci Praun, quarta convidada, traz para a roda os reflexos dessa “economia do bico” na saúde e na segurança desses trabalhadores. Ela redesenhou, em seu estudo de doutorado, o “mapa mundial dos acidentes e doenças profissionais e do trabalho, cuja base de reconfiguração assenta-se em uma nova morfologia do trabalho, expressa por clivagens e transversalidades entre trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens e idosos, brancos, negros e índios, qualificados e desqualificados, empregados e desempregados, nativos e imigrantes, entre tantos outros exemplos”. Sua tese, chamada Reestruturação Produtiva, Saúde e Degradação do Trabalho,
foi publicada em livro em 2016, pela editora Papel Social. Luci é mestre e doutora em sociologia do trabalho pela Unicamp, onde integra o grupo de estudo Mundo do Trabalho; e começou este semestre, a dar aulas na Universidade Federal do Acre.
Para mediar a roda, a organização do Congresso convidou o jornalista João Fellet. Repórter da BBC News Brasil, emissora onde atuou antes como correspondente em Washington, João é também autor de Candongueiro: viver e viajar pela África, um relato sobre a sua experiência em Angola, quando ajudou a fundar o Jornal de Economia & Finanças, e o coletivo Tás a Ver?, que busca aproximar o Brasil de países africanos. O livro foi feito a partir dos registros no blog que manteve durante sua estada naquele país.


Ouça entrevista com Ricardo Antunes sobre esta mesa. Por Juliana Franco, da Rádio Unicamp