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Pandemia

17 de abril de 2020

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A eficiência demonstrada em testes in vitro da molécula anunciada pelo ministro de Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações na destruição do coronavírus não garante que ela pode curar a COVID-19

O anúncio de que o Brasil estaria prestes a descobrir um remédio com 98% de eficácia na redução da carga viral para o coronavírus, feito em coletiva realizada no dia 15 de abril pelo Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, é muito mais uma campanha publicitária do governo, do que fato científico real. Além do seu compromisso de cumprir os protocolos de pesquisa, não há informações consistentes de que isso será feito e o que foi divulgado, indica que os erros cometidos no caso da cloroquina irão se repetir: número pequeno de pacientes (500, segundo informações do ministro), espalhados por diferentes hospitais.

O Ministro fez um relato das iniciativas científicas que a sua pasta apoia, com destaque para três delas: para desenvolvimento de possíveis vacinas, incluindo a que tenta medir o efeito da vacina BCG na taxa de contágio da COVID-19; para desenvolvimento de uma vacina dupla para gripe sazonal e a própria COVID-19; e um experimento do grupo de pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBio-CNPEM), em Campinas, que se mostrou muito promissor, de reposicionamento de fármacos. Os pesquisadores encontraram cinco proteínas com alto potencial, já usadas largamente para tratamento de outras doenças,  e receberam essa semana autorização para os testes clínicos.Os cinco medicamentos selecionados vieram do resultado de simulações computacionais, feitas em mais de 2 mil drogas já aprovadas para outros usos terapêuticos pela FDA (Food and Frug Administration). Esses primeiros fármacos selecionados agem em uma das proteases do vírus. “A protease que temos como alvo é responsável por um processo que torna o vírus ativo, ou seja, capaz de infectar as células e se multiplicar”, explica em nota do CNPEM, a coordenadora científica do LNBio e uma das pesquisadoras do estudo, Daniella Barretto Barbosa Trivella.
De acordo com Sandra Farsky, vice-presidente da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas, a pesquisa de reposição de fármacos se mostra mais promissora no momento: "O processo do desenvolvimento de uma vacina é demorado. Estamos na linha certa fazer por reposionamento de fármacos”, afirma. Sobre as vacinas, ela vê algumas dificuldades. “Coisas surgem durante as pesquisas, como essa relação da vacina BCG, mas ainda é um estudo sem correlação comprovada, ainda é cedo. Não 
sabemos se os dados coletados realmente são resultados da aplicação obrigatória da BCG no Brasil ou se é um caso de subnotificação dos casos de COVID-19 no país, já que não temos testes suficientes", afirma.

Sandra também explica o processo de seleção dos medicamentos: "São feitos testes in silico no computador e os testes de high-throughput screening, que permitem avaliar as bibliotecas de fármacos contra o

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Anúncio de Marcos Pontes é só marketing

vírus. É possível testar estas grandes bibliotecas porque é tudo automatizado, controlado por computador. É muito eficaz e rápido para uma triagem inicial de fármacos que podem evoluir para os estudos clínicos (pré-clínicos e clínicos). Nestes testes iniciais pode-se dizer qual fármaco foi mais eficaz para matar o vírus, por exemplo”, diz.

Ela acredita que estas sejam as estratégias corretas, mas alerta que a eficácia do medicamento só poderá ser comprovada com segurança após os ensaios clínicos. “Por enquanto é muito cedo para afirmar qualquer resultado", avisa. O uso da cloroquina é um exemplo de reposicionamento de fármacos que se mostrou eficiente nos testes in silico, com resultados desastrosos na aplicação in vivo. Há críticas sobre a forma como essa substância foi testada, inclusive dentro do próprio Ministério da Saúde. O Informe Diário de Evidências – COVID-19, que informa e avalia as principais evidências científicas descritas na literatura internacional sobre tratamento farmacológico para a COVID-19, indica a existência de limitações importantes no uso da hidroxicloroquina:

...“o estudo apresentou várias limitações, a saber: tratamento não foi designado aleatoriamente, já que o estudo era observacional, algumas variáveis prognósticas potencialmente importantes não puderam ser balanceadas, o número de pacientes tratados com HCQ nos centros foi desequilibrado (alguns centros tratavam todos os pacientes com HCQ, enquanto outros não), portanto, os autores ressaltam a necessidade de cautela na interpretação dos resultados, especialmente para a mortalidade geral.”

E alerta para os riscos na prescrição da cloroquina e da hidroxicloroquina em uma revisão que resume as evidências dos principais tratamentos propostos na literatura:

“Cloroquina e Hidroxicloroquina: não há evidências da eficácia desses medicamentos no tratamento da COVID-19. Os poucos estudos disponíveis na literatura apresentam sérias limitações, como tamanho amostral e perda de pacientes. Apesar destes medicamentos serem relativamente bem tolerados pelo organismo, há relatos de efeitos adversos graves.”

O ministro Marcos Pontes garantiu na coletiva que os testes iriam seguir fielmente os protocolos científicos e informou que 500 pessoas serão testadas em sete hospitais diferentes pelo Brasil. Todos os testes serão feitos em pacientes internados, para facilitar a administração dos medicamentos. Durante cinco dias os pacientes serão medicados e ficarão outros nove em observação, somando 14 dias de testes. Os principais controles são, em resumo, da carga viral, dos sintomas e de exames clínicos. Nos ensaios celulares, uma das drogas foi capaz de destruir 94% da carga viral. Com os ensaios clínicos, os pesquisadores esperam descobrir se a droga tem a mesma eficácia dentro do organismo.

FELIPE VITE

Uma gota no oceano

O Informe Diário (clique na imagem para baixar) que trata da hidroxicloroquina é uma produção do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE) do Ministério da Saúde e foi publicado dia 14 de abril,  um dia antes da coletiva do ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia. Ele traz informações e avalia 15 estudos e 26 protocolos de pesquisa. No dia seguinte à fala de Pontes, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também anunciou testes de reposicionamento, já com pedido de depósito de patente para a recuperação, do tetraclorodecaóxido (TCDO), do laboratório suíço Oxo Chemie, pode ser eficiente como único princípio ativo ou em associação com outros fármacos, preferencialmente antivirais, no tratamento da COVID-19. Há muitos fármacos sendo testados para pacientes infectados por SARS-CoV-2, como pirfenidona,

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ASC-09/ritonavir, darunavir, cobicistat, cloroquina, hidroxicloroquina, interferon beta, remdesivir, ritonavir, lopinavir, sarilumab, oseltamivir, arbidol (umifenovir) e losartana de potássio. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo da UFMG, Marcos Augusto dos Santos e Carmelina Figueiredo Vieira Leite, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), escolheram o TCDO porque é o único que ainda não está em teste da lista de cinco encontrados entre os retrovirais usados no tratamento de infecções oportunistas em pacientes com AIDS, como o ácido benzoico, que está sendo testado como antiviral.

POSSE - Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, na posse do novo ministro da Saúde, Nelson Teich

Foto:Tomas Silva/Agência Brasil

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SEMANA TENSA
No Rio de Janeiro, além da adoção de drones nos bairros da Zona Sul para monitorar a movimentação e orientar as pessoas, o prefeito Marcelo Crivella, diante do número crescente de casos e da falta de leitos na cidade, editou hoje (17/04), um decreto determinando uso obrigatório de máscaras a todos que estejam na rua. 
A medida foi proposta pelo Comitê Científico. 

Em São Paulo, os dois hospitais de campanha de São Paulo criados para o tratamento de pacientes com coronavírus em situação de baixa ou média complexidade, estavam com 157 pacientes internados, a maior parte deles no Estádio do Pacaembu, onde oito dos 81 pacientes internados estavam na sala de estabilização (para casos mais graves). No hospital de campanha do Anhembi havia 76 pacientes internados, dois estavam na sala de estabilização. São Paulo tem, até hoje, 9.537 casos confirmados de coronavírus, com 690 mortes. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a cidade investiga 35.410 casos e 1.138 óbitos suspeitos de coronavírus.Os distritos de Sapopemba, Itaquera, Jabaquara e Jardim Ângela foram os que registraram maior número de casos de coronavírus na cidade. Entre os casos confirmados, a maior parte foi identificada na população entre 30 e 39 anos. (com informações da AGÊNCIA BRASIL)

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