INSTITUTO
WALTER LESER
Saúde coletiva & cidadania
Pandemia
17 de setembro de 2021
Negligência aumentou o risco de quem teve de sair para trabalhar
Pesquisa DOSSIÊ COVID NO TRABALHO, que investiga condições de trabalho na pandemia, mostra que a grande maioria conviveu com colegas que se infectaram em ambientes mal ventilados e sem espaço para a adoção do distanciamento físico
Entre as pouco mais de 2,7 mil pessoas que se expuseram ao coronavírus trabalhando presencialmente durante a pandemia e que responderam à pesquisa COVID-19 Como Doença Relacionada ao Trabalho, a grande maioria (de 74% a 91% dependendo da categoria) enfrentou ambientes mal ventilados, onde não se podia manter uma distância física adequada. As primeiras informações levantadas pelo grupo de 28 pesquisadores por meio de questionários distribuídos pela Internet, mostram que essas pessoas trabalharam em alto risco, porque além do ambiente inseguro, os relatos são de que nem todos os colegas com COVID-19 foram afastados.
Os números foram apresentados na mesa redonda Covid-19 Relacionada ao Trabalho: Narrativa de Quem Trabalhou Presencialmente, do XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), que aconteceu entre o final de agosto e início desse mês e reunidos no BOLETIM Nº1.
O pesquisador do projeto, Cézar Saito, faz a ressalva que esses são resultados parciais, comparáveis apenas dentro da amostra, mas mesmo assim descrevem uma situação bastante grave. A grande maioria dos bancários (74,2%), petroleiros (91,2%) e metroviários (86,5%) respondeu ter tido contato com pessoas infectadas durante a atividade de trabalho e mais de 50% disseram que dos casos conhecidos por eles, nem todos os doentes haviam sido afastados (50,9% dos bancários, 54,3% dos petroleiros e 60,2% dos metroviários). Houve uma pequena, mas significativa porcentagem (5,9%, 2,6% e 4,8%; respectivamente bancários, petroleiros e metroviários) que respondeu que nenhum dos colegas infectados havia sido afastado.
Esse achado da pesquisa pode justificar, em parte, o alto índice de contaminação dos metroviários, de mais de 26% em São Paulo conforme apurou a Ouvidoria do governo estadual para a Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro). Nas demais capitais onde o metrô funcionou os índices de contaminação são parecidos: Porto Alegre tem 23,5% e Maceió 25%. Os índices só foram menores em Belo Horizonte (9,6%) e Recife (8,6%), onde o metro funcionou de forma parcial, para transporte apenas de trabalhadores em atividades essenciais.
Mesa apresenta perspectivas do trabalhador
Os dados da pesquisa foram apresentados em uma mesa aberta que discutiu a pandemia a partir da perspectiva do trabalhador, aqui no Brasil e também em vários outros países. Esse panorama mundial está logo na apresentação de abertura, com o médico Carlos Eduardo Siqueira, professor do Departamento de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Comunitário da Universidade de Massachusetts.
Eduardo apresenta um estudo feito pelo Sindicato Global Union. Em seguida, o pesquisador Cezar Akiyoshi Saito, pesquisador do DOSSIÊ COVID NO TRABALHO, mostra os primeiros achados da pesquisa. A terceira apresentação é do juiz Guilherme Guimarães Feliciano, professor da USP, que traz três casos em que a contaminação do trabalhador foi considerada relacionada ao trabalho pelo Tribunal de Justiça.
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Dossiê Covid no Trabalho na Abet, no nosso canal do Youtube
SOS EMOCIONAL
Este cenário de alta tensão e medo certamente contribui para o aumento de problemas mentais que vem sendo registrado desde o início da pandemia. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que a concessão de
afastamentos por transtornos mentais chegou a 291 mil em 2020, 20% mais que o registrado no ano anterior, quando não havia pandemia. Levantamento da consultoria B2P mostra um crescimento maior, de 23%, entre março de 2020 e março de 2021.
Na pesquisa, o problema apareceu de forma espontânea, por meio de duas questões que abriram um canal para comentários e um e-mail em caso de dúvidas e solicitações. A ajuda psicológica foi o pedido mais
predominante: 20% dos trabalhadores que responderam ao questionário geral pediram socorro. As três demandas seguintes são vacina (7%), ajuda financeira (6%) e a possibilidade de trabalhar em home office (5%). solicitações. A chegada de demandas urgentes, além de revelar falta de informação e falhas no atendimento do Estado, levou os pesquisadores a criarem um plantão de atendimento, que tem dado orientações nas áreas de saúde, assistência social e jurídica em tempo real.
Até 10 de agosto, a pesquisa recebeu 3.051 questionários respondidos; 2.761 (90,5%) válidos. Deste total válido, 702 adoeceram (25%), principalmente na faixa de 30 a 60 anos; e outros 25% não sabem.