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Pandemia

02 de dezembro de 2021

O mercado de trabalho que a pandemia desenha

  As últimas estatísticas oficiais de emprego e renda divulgados no Brasil revelam o desenho que a pandemia está deixando no mercado de trabalho, resultado da soma dos prejuízos provocados pelas paralisações e redução da circulação das pessoas durante o lockdown, com a manipulação e erros do governo e a flexibilização oportunista das leis trabalhistas pelo Congresso.

  Em pouco mais de um ano e meio de pandemia, a força de trabalho do país perdeu renda – a queda no terceiro trimestre de 2021 (julho a setembro) no rendimento real habitual (R$ 2.459), segundo a PNAD Contínua divulgada esta semana pelo IBGE, foi de 4% quando a referência é o trimestre anterior, e de 11% se comparada ao que se registrou há um ano, no terceiro trimestre de 2020.

  A massa de rendimento real habitual (R$ 223,5 bilhões) ficou estável em ambas as comparações, mas o número de pessoas que dividem essa massa aumentou: A taxa de desocupação (12,6%) do 3º trimestre de 2021 (julho a setembro) recuou 1,6 ponto percentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior, que registrou 14,2% de desocupados; e 2,2 p.p. frente ao mesmo 3º trimestre de 2020 (14,9%).

  Na vida real, isso quer dizer que 1,4 milhão de pessoas conseguiram uma vaga de trabalho nos últimos três meses; e um grupo maior do que havia antes da pandemia aceitou ganhos menores e também, vínculos mais precários: O número de empregados sem carteira assinada no setor privado soma hoje 11,7 milhões de pessoas, quase um quarto mais do que há um ano (23,1%; o que representa 2,2 milhões de trabalhadores), pouco menos da metade disso (10,2% ou 1,1 milhão de pessoas) só no último trimestre. Queda no desemprego é uma das boas notícias anuladas pela crise econômica, que reduziu a renda, e pelo efeito das MPs de socorro aos empresários, que precarizou ainda mais os vínculos de trabalho considerados legais.  O número de trabalhadores por conta própria - 25,5 milhões de pessoas – também é maior agora em 817 mil pessoas (3,3%) na comparação mensal e em 4 milhões (18,4%) se pensarmos nos

Técnica do IBGE explica resultados

Alessandra Scalioni Brito, analista da pesquisa do IBGE, fala sobre os resultados da PNAD Contínua do 3º Trimestre de 2021

Desempregados
(desocupados)

13,5 milhões

3º trimestre 2021

 

Taxa de desemprego
(desocupação)

12,6%

3º trimestre 2021

 

Desalentados

5,1 milhões

3º trimestre 2021

 

Taxa de subutilização

26,5%

3º trimestre 2021

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Recrutadores e trabalhadores em feira de empregos em Leesburg, Virgínia

Estadunidenses reagem à com abandono do emprego

A imprensa americana vem publicando matérias a respeito do abandono dos seus postos por pessoas insatisfeitas com as condições de trabalho e valores pagos pelas empresas, pressionadas pela crise pandêmica. As primeiras explicações do fenômeno, de que a falta de mãos para o trabalho vinha do pagamento do auxílio pelo governo durante a pandemia, não se comprovou. O déficit de mão de obra hoje, mais de dois meses depois do fim da ajuda, em setembro, é calculado em 3 milhões de trabalhadores, quando se compara a população economicamente ativa (PEA) registrado antes da crise, segundo dados do Departamento do Trabalho do governo estadunidense.

Leia mais

Veja por que os pedidos de seguro-desemprego atingiram seu nível mais baixo desde 1969 (Em inglês)

TRADUÇÃO EM PDF

números de um ano atrás.

COMEMORAÇÃO INDEVIDA

No início do ano, o ministro da Economia Paulo Guedes comemorou de forma indevida a criação de mais de 140 mil vagas de trabalho formal (com carteira assinada) em 2020. Uma revisão do Ministério do Trabalho e Previdência divulgada no início de novembro, no entanto, indica que na realidade, em 2020 não tivemos mais de 75.883 vagas formais criadas, o que é quase a metade do inicialmente divulgado pelo governo. Segundo nota publicada pelo Ministério, houve um aumento no número de declarações de contratação e demissão das empresas fora do prazo, em virtude do início de operação do

eSocial, plataforma digital que está implantando a informatização dos processos previdenciários. Além da informatização, que teoricamente diminuiu a subnotificação, o Caged passou a ser gerado por meio de uma nova metodologia, que inclui fontes inexistentes antes de 2020, impedindo comparações entre os períodos.

  Tanto a entrada do eSocial quanto a adoção de novas metodologias estatísticas, tem sido apontadas pelos especialistas como medidas responsáveis por um grande apagão de dados, que estaria sendo promovido desde o início da gestão Bolsonaro. Não se sabe ainda se por incompetência ou má intenção.

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