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Pandemia

19 de novembro de 2020

Subnotificação esconde o que seria a segunda onda de COVID-19

Casos como o de São Paulo, que deixou de informar os números sobre a doença e até ontem negou aumento nas internações da rede pública, se repetem em vários Estados desde setembro

O Brasil vive neste momento um cenário de subnotificação extrema dos casos de contaminação e de óbitos por COVID-19, que pode ter tirado da conta da doença, mais de 60 mil mortes. “Só para se ter uma ideia, no último boletim epidemiológico do Brasil (nº 36), que vai até 17 de outubro, tínhamos pouco mais de 60 mil óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não identificados e 150 mil óbitos por COVID-19. Ou se admite que temos uma epidemia de outro tipo de infecção no Brasil, ou esses 60 mil casos tem de entrar na conta da COVID-19”, afirma o médico Domingos Alves, professor do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, e um dos pesquisadores do COVID-19 Brasil, plataforma que monitora a pandemia em todo País, com a colaboração de pesquisadores de várias universidades. Se forem mesmo mortes por COVID-19, há um mês o Brasil já teria 210 mil vítimas da doença.

Na semana passada, diretores de grandes hospitais da rede privada da capital de São Paulo fizeram um alerta sobre aumento importante nas internações por covid-19. Provocada pela imprensa, a Secretaria de Saúde municipal negou que o mesmo estivesse ocorrendo na rede pública, porém outra plataforma de monitoramento, a desenvolvida pelo projeto de pesquisa SP Covid Info Tracker, registrou um crescimento de 21,57% das internações na rede pública da Capital nos últimos sete dias (de 11 a 18 de novembro). “Temos 722 pacientes internados por COVID-19 na rede do município. Não tínhamos esse valor desde 12 de outubro”, diz Marilaine Colnago, matemática e pesquisadora do projeto, poucas horas antes da atualização que iria incluir além dos dados represados por problemas técnicos nos sistemas do governo, os hospitais municipais os das redes contratadas pelo município. Com essa atualização, o número de internados subiu para 834. Apenas ontem (dia 18/11) a prefeitura paulistana admitiu que há realmente um aumento nos números da doença na cidade e estendeu as medidas de isolamento social até o final do mês.

Confusões como essa na divulgação dos números, segundo Domingos, vem acontecendo em todo o país de forma sistemática desde setembro. “Os Estados estão soltando os dados (sobre a doença) em tempos distintos. Passa uma semana, ou um final de semana, sem divulgar nada. Aí quando volta, provoca aqueles picos (falsos)...”, explica.

Para afirmar que está havendo crescimento de casos no País, Domingos usa como termômetro o cálculo do índice de infecção (Rt), que era de 0,95 no começo de outubro. “Quem puxava essa alta, que eu já considerava alta, eram quatro Estados. De 26 para 27 de

São Paulo tem o maior número de internados, mas a taxa de crescimento ocupa a décima posição numa lista de maiores altas, com 12 municípios. Na primeira posição está Praia Grande, que hoje tem 43 pessoas internadas com a doença, 95,4% mais do que há sete dias. A Info Tracker reúne pesquisadores da Unesp e da USP de São Carlos e usa os dados oficiais, publicados nos boletins pelas prefeituras paulistas.

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A plataforma Convid-19 Brasil tem uma ferramenta que mede a pressão da pandemia sobre a rede hospitalar, conforme a quantidade de casos confirmados de COVID-19 no Brasil, Estado e município, desenvolvida pela Universidade de Brasília (UnB) com apoio da Organização Pan Americano de Saúde (OPAS/OMS). A última projeção, feita ontem, estima que o Brasil vai precisar de mais de 700 mil leitos de UTI e 3,15 milhões de leitos clínicos adicionais nas próximas dez semanas para atender o aumento de casos projetados, considerando o cenário atual.

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PRESSÃO NOS HOSPITAIS
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Síndrome Gripal
Pacientes com quadro respiratório agudo, caracterizado por pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos.

Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)
Pacientes com síndrome gripal que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU pressão ou dor persistente no tórax OU saturação de O² menor que 95% em ar ambiente OU coloração azulada (cianose) dos lábios ou rosto.

outubro, essa taxa já aumentou, foi para 1,07”, diz Domingos. O número de Estados com taxas de infecção acima de 1 também aumentou, para 11. Marilaine do Info-Tracker, diz que hoje taxa de infecção da Capital de São Paulo  já está em 1,37. “Isso significa que 100 pessoas com o vírus estão transmitindo para 137 outras pessoas”, explica. Hoje, a Rt do Brasil é 1,15.

Como Domingos, Marilaine chama a atenção para o grande número de casos suspeitos. “É a grande explosão

que verificamos na Capital. Mais de meio milhão de casos suspeitos monitorados, um número que sobe sem parar desde agosto”, disse.

A Comissão Intergestores Bipartite do Estado de São Paulo publicou uma deliberação (CIB-75) em 15 de setembro onde define que casos de Síndrome Gripal e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) são suspeitos de COVID. (veja box acima). Ontem, o Estado de São Paulo tinha 697.080 casos suspeitos, 544 mil na capital.

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