INSTITUTO
WALTER LESER
Saúde coletiva & cidadania
Pandemia
27 de julho de 2020
Saiba mais sobre a relação entre entregadores e as cooperativas de aplicativos
Dois grandes protestos organizados por entregadores de aplicativos, a primeira uma greve nacional no primeiro dia deste mês e a segunda, uma manifestação nos shoppings em várias cidades no último sábado (25/07), trouxeram para o debate as cooperativas de aplicativos, um caminho que pode colocar a Inteligência Artificial a favor da preservação de direitos. A Digilabour, newsletter sobre mundo do trabalho e tecnologia produzida por Rafael Grohmann, professor do Mestrado e Doutorado em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), reuniu uma boa bibliografia a respeito, além de listar quem pesquisa o assunto e as experiências de coletivos que estão trilhando esse novo caminho no Brasil.
Na bibliografia, destaque para estudos de casos na Espanha e Alemanha, em que os autores mostram como coletivos de entrega usam a Inteligência Artificial como defesa e apoio na luta por direitos e contra a exploração do trabalho por grandes aplicativos como o Deliveroo. As pesquisadoras Aina Fernàndez (Universitat Pompeu Fabra – Barcelona, Catalunha, Espanha) e Maria Soliña Barreiro (Universidade de Santiago de Compostela – Santiago de Compostela, Galiza, Espanha), analisam o caso de um coletivo de entrega de Barcelona que criou um sindicato, o RidersXDerechos e a cooperativa Mensakas, que tem aplicativo e algoritmo próprios. (leia mais aqui).
Em THE ALGORITHM IS NOT MY BOSS ANYMORE: Technological appropriation and (new) media strategies in Riders x Derechos and Mensakas (Riders por Derechos em Barcelona) elas estudam o uso da tecnologia em dois aspectos: na comunicação, sobre “como foram capazes de usar as comunidades digitais para aplicativo de entrega de comida na Europa, fazendo “engenharia reversa” do
algoritmo de tarifas e preço da empresa.
Niels van Doorn, professor assistente de novas mídias e cultura digital no Departamento de Estudos de Mídia da Universidade de Amsterdã estuda um pequeno grupo de entregadores de alimentos de Berlim em At what price?
Labour politics and calculative power struggles in on-demand food delivery (Lutas em Torno do Cálculo da Remuneração nos Aplicativos). O coletivo tenta desafiar o poder de mercado de gigantes como a Deliveroo, principal aplicativo de entrega de comida na Europa, fazendo “engenharia reversa” do algoritmo de preços das tarifas e preço da empresa.
Niels é pesquisador líder do Platform Labor, projeto de pesquisa que investiga como as plataformas digitais estão mudando a organização de trabalho, vida e subsistência de gênero e de classe em sociedades marcadas pela erosão dos sistemas de bem-estar. Ele registra as dificuldades enfrentadas por esses 'cavaleiros' e aborda os limites das lutas baseadas no mercado sobre o poder calculativo, no contexto de um "excepcionalismo de plataforma".
A Digilabour tem ainda uma seleção de sete coletivos que criaram cooperativas de trabalhadores para entregas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis.