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Pandemia

22 de março de 2021

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ONU alerta para a invisibilidade de pessoas com deficiência durante a pandemia

Dependentes de apoio de terceiros e em sua maioria, com poucos recursos, essas pessoas não têm tido apoio e atenção dos Estados ou da pesquisa

A relatora especial da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, Catalina Devandas, soltou uma nota esta semana alertando para a invisibilidade das pessoas com deficiência durante a pandemia do coronavírus. “As pessoas com deficiência sentem que foram deixadas para trás”, disse a especialista em direitos humanos da ONU. “Medidas de contenção, como distanciamento social e auto-isolamento, podem ser impossíveis para aqueles que contam com o apoio de outras pessoas para comer, se vestir e se banhar”, contínua, para em seguida afirmar que os Estados devem tomar medidas adicionais de proteção para que esse grupo possa continuar contando com apoio de forma segura mesmo durante a crise.

Catalina conta que muitas pessoas com deficiência dependem de serviços que foram suspensos e podem não ter dinheiro suficiente para estocar alimentos e remédios, ou pagar o custo extra para entregas em casa. Também chama a atenção para a situação das pessoas com deficiência em instituições, centros psiquiátricos e prisões, particularmente grave, em virtude do elevado risco de contaminação nesses ambientes, somado à falta de fiscalização externa e agravados por medidas de controle (como a suspensão de visitas).

A deputada federal Rejane Dias (PT-PI) publicou recentemente um artigo no jornal O Estado de S. Paulo em que alerta para o abandono e a piora da situação de vida desse grupo no Brasil. “ A maior parte das pessoas com deficiência no Brasil é considerada de baixa renda, quase sempre dependem de terceiros, como cuidadores, equipes de home care, utilizam equipamentos que precisam ser manipulados, ou por elas, ou por outras pessoas, constantemente. Pelo menos 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. Isso representa quase 25% da população”, conta. “Essas pessoas ainda sofrem violência, negligência e abusos. Com a chegada da pandemia, esse cenário aprofundou ainda mais esses conflitos. E pouco tem sido feito para que haja a garantia de apoio às pessoas com deficiência, para protegê-las, sobretudo, quando muitas delas pertencem ao grupo de alto risco. As pessoas com deficiência sentem simplesmente que foram deixadas para trás”, escreve.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 20% (171,6 mil) dos 849 mil postos de trabalho formais fechados no Brasil pela pandemia entre janeiro e agosto de 2020 eram ocupados por pessoas com deficiência. Os dados apontados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). 

TRABALHANDO NA PANDEMIA?

Conte como é - responda à pesquisa e nos ajude a garantir que todo trabalhador que se contaminar com COVID tenha apoio e sustentação do Estado e da sociedade.

Acesso direto ao questionário aqui 

José Carlos do Carmo, especialista em medicina do trabalho

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O projeto de pesquisa DOSSIÊ Covid no Trabalho incluiu os trabalhadores com deficiência envolvidos em atividades essenciais e portanto, exposto à contaminação pelo coronavirus. Embora forme um dos menores grupos de profissionais em atividade nesta pandemia, é importante que se conheça suas condições de trabalho, em virtude de certas particularidades impostas pela limitação a que estão sujeitos. “Essas particularidades podem colocá-los em situação de maior risco de contaminação e merecem ser consideradas em qualquer estudo que se faça a respeito da COVID-19. Normalmente, as pesquisas envolvendo trabalhadores fazem recortes relacionados a diferentes características da população estudada, como cor de pele, gênero, idade e outras, mas não consideram a questão da deficiência“, afirma o médico José Carlos do Carmo, especialista em medicina do trabalho e mestre em Saúde Pública pela USP e um dos pesquisadores que lideram o grupo. Não há informações a respeito de outra investigação do tipo que inclua esse grupo social.

Com o nome formal COVID-19 COMO UMA DOENÇA RELACIONADA AO TRABALHO, a pesquisa tenta cobrir uma lacuna nas estatísticas oficiais, que não informam a profissão ou local de trabalho das pessoas que são diagnosticadas com COVID. Sem esse dado, fica impossível saber o nível de risco a que se expõem os trabalhadores que estão mantendo a sociedade funcionando, garantindo que possamos ter comida, água, combustível, atendimento médico e transporte, atividades onde tem sido registrado grandes níveis de contaminação. 

“A sociedade deve garantir  a essas pessoas que estão se expondo a garantia do maior amparo social caso adoeçam'', diz a médica Maria Maeno, também membro do grupo de pesquisa.

A favor do reconhecimento do caráter ocupacional da COVID-19 há vários argumentos, entre os quais o caráter comunitário da doença e a grande proporção de assintomáticos, que implicam o aumento de risco de exposição ao vírus sempre que qualquer pessoa  entra em contato com outra, que esteja contaminada, mesmo que sem sintomas. A escassez de informações sobre como as pessoas trabalham nesta pandemia motivou o grupo de pesquisadores envolvidos de várias formas

Projeto DOSSIÊ Covid no Trabalho está levantando dados também entre trabalhadores com deficiência

na proteção da saúde dos trabalhadores a desenvolver esse projeto. O objetivo primeiro é dar visibilidade aos diferentes cenários de trabalho no mercado formal e informal.

Para isso, o DOSSIÊ Covid no Trabalho reuniu 23 pesquisadores, que atuam com grupos diferentes de trabalhadores, em um grande esforço de pesquisa. Os questionários - distribuídos online - foram construídos a partir de discussões com as lideranças de cada categoria, o que resultou em quatro versões: uma geral, outra para os bancários, uma terceira para os radialistas e a quarta para empregadas domésticas e cuidadoras (ou empregados domésticos e cuidadores). A distribuição e divulgação dos questionários está sendo feita com apoio logístico dos sindicatos e agremiações parceiras e em pouco mais de quatro meses, receberam 2094 respostas (até 16 de março).

Os questionários também incluem canais para pedidos de ajuda e orientação, o que acabou gerando uma grande demanda por questões urgentes. O grupo de pesquisa decidiu, então, passar a monitorar diariamente esses pedidos, montando um plantão para atendimento dos que precisam de ajuda imediata. “É angustiante receber pedidos de ajuda para alimentação, por exemplo. Algumas pessoas pedem cesta básica. Há também muitas queixas de natureza psicológica”, conta a química Cristiane Queiroz Barbeiro Lima, especialista em ergonomia de sistemas de produção, mestre em Engenharia pela USP e pesquisadora do projeto.

Para conhecer todos os pesquisadores e parceiros envolvidos nesta pesquisa, acesse o site DOSSIÊ Covid no Trabalho.

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