INSTITUTO
WALTER LESER
Saúde coletiva & cidadania
Pandemia
20 de maio de 2020
Quase 500 mil pessoas pediram seguro desemprego na segunda quinzena de abril
Somando os 200 mil que estão na fila, número pode chegar a quase 1 milhão no mês. Com atrasos e problemas na coleta de dados, podem ser ainda maiores em maio
FELIPE VITE
Com muitos lapsos estatísticos e delay nas informações apresentadas por estudos do governo, o mês de abril acumulou um número expressivo de pessoas que acionaram o seguro desemprego. Na primeira quinzena do mês, eram contabilizados 267.693 pedidos do seguro, enquanto na segunda metade do mês o número de pedidos saltou para 748.484, sem contar os quase 200 mil pedidos em fila de espera. Se compararmos o mês de abril ao seu anterior, o crescimento no número de pedidos bateu os 39,4%. Se comparar com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 22,1% nos pedidos de seguro desemprego.
De acordo com Anselmo Santos, do Cesit da UNICAMP, são cerca de 2 milhões de pessoas que saíram do mercado de trabalho nesse período de pandemia. "Esse número é reflexo deste cenário de pandemia. Pessoas perdem emprego e não saem para procurar outro. Ou não tem emprego disponível ou não pode sair de casa (quarentena).". Anselmo ainda diz que os dados atuais não refletem muito bem a real crise que estamos encarando. Há um delay entre a pessoa ser demitida no mercado formal, receber seus devidos pagamentos e dar baixa como desempregado. O número de desempregados e pedidos de seguro desemprego no mercado formal deve aumentar em maio. O setor informal também é muito afetado. Aqueles com um pequeno negócio, ainda sem CNPJ, ficam em situação de desalento em meio à quarentena. Serviços não essenciais ficam fechados e os negócios acumulam prejuízos. Só no primeiro trimestre de 2020, o setor apresentou queda de quase 10% no rendimento dos trabalhadores se compararmos ao primeiro trimestre de 2019. "A falta de políticas de apoio do governo aos trabalhadores ajuda a comprometer os índices de isolamento social. Muitas pessoas vão receber auxílio emergencial e alguma renda vinda de contas a receber pelo desemprego, terão que gastar tudo num intervalo de dois ou três meses. Em julho ou agosto devemos ter números comprovando a precarização do mercado de trabalho brasileiro", afirma Anselmo.
Os setores de serviço e industrial também já sinalizavam queda antes mesmo da pandemia. O PMS indicou em março uma queda de 7,3% na receita nominal de serviço e queda de 6,9% no volume de serviços. De acordo com o IBGE, a produção industrial caiu 9,1% em março, comparada a fevereiro. A explicação do Instituto para a queda geral na indústria está totalmente atrelada à pandemia de covid-19. Esses números ainda não se mostraram refletidos na PNAD Contínua primeiro trimestre de 2020, a taxa de .
FOTO: Divulgação/Sindicato dos Bancários
Anselmo dos Santos: números não refletem a crise real
Gustavo Cavarzan: 8 milhões de pessoas afetadas
Luci Praun: futuro tenebroso
EMERGÊNCIA: fila na porta da Caixa em Carapicuíba (SP)
desocupação era de 12,2%, cerca de 1,2% maior que o trimestre anterior e 0,5% menor que o mesmo período do ano passado. Isso comprova o delay nas estatísticas relacionadas a desemprego.
Plataformas como a PNAD Contínua e o CAGED se mostram altamente desatualizados perante a situação. De acordo com Gustavo Cavarzan, economista do DIEESE, o CAGED está paralisado desde dezembro de 2019. Com a pandemia, as empresas se desorganizaram e não estão enviando os números para o governo. O CAGED seria a ferramenta que poderia mostrar a real situação do mercado formal, mas não há previsão para retomada na divulgação desses números. No caso da PNAD, Gustavo explica: "Ela na realidade nos dá a situação prévia (à pandemia). O cenário anterior já indicava um altíssimo nível de desemprego, de desalento, de subocupação e alta informalidade".
Para o economista, os números mais palpáveis no momento são os de pessoas entrando com pedido de seguro desemprego e o número de pessoas afetadas pela Medida Provisória 936 (prevê redução de jornada de trabalho, desalário e suspensão de contratos). "São quase 8 milhões de pessoas afetadas,
que ganharam uma certa sobrevida em seus empregos (mercado formal). Esses números devem ser mostrados nas próximas PNADs, o efeito na economia e principalmente no mercado informal, que representa cerca de 40% do mercado brasileiro". Isso simboliza apenas um adiamento do governo com o desemprego. Sem um plano real de ação para uma retomada econômica, a projeção é que os números decolem ainda mais dentro de 4 meses. "Se não tivermos um plano real para retomada, essas empresas não terão condições de manter esses trabalhadores. O cenário já estava ruim antes da pandemia e deve piorar depois dela." - finaliza Gustavo. Sobre esse "apagão estatístico", a socióloga e professora Luci Praun afirma que essa falta de estatísticas trabalhistas, como a ausência do CAGED, é uma estratégia do governo, até porque as estatísticas relatariam números muito negativos. Ela ainda diz que a estratégia do governo em aprovar redução da jornada de trabalho e a redução salarial é uma maneira de "jogar nas costas do trabalhador o ônus de qualquer crise". O Brasil não tem plano de retomada, o suporte ao trabalhador é insuficiente e o prospecto para o futuro próximo é tenebroso.
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